sábado, 7 de novembro de 2009

A primeira corrida

Campeonato Nacional de Velocidade, 1991, 1ª prova, Vila Nova de Gaia.
Depois de tantos anos a filmar corridas resolvi participar numa. Com a quantidade de amigos que tinha ligados ao meio não me foi difícil conseguir uma moto emprestada, tendo recaído a escolha na Gilera SP-01 com que o Pedro Abreu tinha disputado o campeonato no ano anterior. O capacete era do Rui Esteves, as luvas foram oferecidas pelo Joaquim Cidade no dia dos treinos e o fato e as botas tinham sido usadas pelo Costa Paulo. Ou seja, estava forrado por títulos, apesar de trocar de bom grado algum do palmarés por umas botas dois números acima.
click para ampliar

A aventura não começou mal. Fui buscar a Gilera no dia anterior a Amarante, que pegou “à primeira” apesar de estar encostada na garagem há seis meses, e o Zé Pereira garantiu-me que podia ficar na zona da equipa oficial Gilera, e que me davam a assistência necessária. A primeira contribuição foi o vidro da carenagem e, a segunda, a gasolina necessária para alinhar nos treinos. Parecia que estava numa equipa de fábrica! Foi com a chegada da primeira sessão de treinos que “as corridas” se começaram a mostrar. O tempo deixa de existir, tudo passa depressa e é num instante que estamos na pista com mais de trinta motos, rodeados de fumo e a sermos ultrapassados “à cão” por uns e a fazer o mesmo a outros. A primeira sessão correu mal. O tubo de gasolina ficou trilhado ao baixar o depósito e não cheguei a dar uma volta completa. Na segunda sessão já deu para fazer o gosto ao dedo e "picar-me" como um desalmado com alguns dos artistas.

A Gilera estava um bocado “chaço”, era nitidamente mais lenta que a maioria das motos presentes de maneira que não era nas rectas que podia ganhar posições e, nas curvas, o pneu traseiro meio careca e o bambolear das suspensões não ajudavam a ultrapassar as minhas limitações – a diferença de nível para a maioria era alucinante – tendo conseguido passar apenas por dois ou três. Quando foi publicada a folha com os tempos tinha 5 pilotos atrás de mim, o que me encheu de orgulho, até o Luis Cardoso, que era o director da prova, me ter confidenciado que os tempos foram inventados pois tinha-se avariado o sistema de cronometragem. Como um mal nunca vem só, ao chegar ao paddock a equipa comunicou-me que não iria participar na prova de “promoção” mas sim na de “racing”, já que precisavam da minha carenagem lateral direita para montar na moto do piloto oficial deles. Ok, benvindos o mundo dos pilotos de fábrica!


A corrida acabaria por se revelar insípida. Sabendo de antemão que não tinha ninguém próximo do meu nível com quem disputar posições, mais não fiz do que tentar divertir-me andando depressa, pelo menos até me começarem a ultrapassar, momento em que passei a olhar mais para trás do que para a frente. Acho que no total fiz doze voltas. Perguntei mais tarde ao “Piducha”, que tinha alinhado com a Aprilia AF1 Futura também na promoção, e que me tinha dobrado à oitava volta, quando é que começou a apanhar pilotos na corrida anterior. Disse-me que a partir da quarta volta começou a dobrar pilotos, e que foram vários até à oitava volta. Ok, servia para me situar na classificação da promoção, mas preferia ter sido eu a fazê-lo.

Retive deste fim-de-semana algumas histórias. Da primeira vez que disputei uma travagem (com uma Cagiva Mito verde...) levei uma abada! Na volta seguinte, e contra a mesma moto, mudei de estratégia e em vez de olhar para a curva olhei apenas para a traseira da moto. Dessa vez passei-o, mas já não deu para fazer a curva... Nessa mesma curva, e já durante a corrida, julguei que tinha falhado a travagem, mas acabei por conseguir fazer a curva. O curioso é que consegui ouvir de um dos espectadores - em parte por estarem a menos de um metro de mim, em parte por efectivamente ir devagar - “já está melhor”!
A cena mais cómica aconteceu contudo com o Francisco Costa, que também corria com uma Gilera SP-01. Ele usava o cabelo comprido, pelo meio das costas, e estava sentado perto de mim, no paddock. A certa altura passaram dois miúdos por nós e pararam ao pé da moto. Um deles virou-se para o outro e disse: Olha, é esta a moto da gaja! O outro, mais dado à performance, disse-lhe que sim, que era a da gaja, mas que “ela não andava nada”. O Francisco, que estava quase a ter um ataque, fez bem em não se levantar da cadeira pois o primeiro rematou a questão dizendo “realmente não anda nada, mas tem cá um cú”!
A noite terminou na pizzaria “Meidin”, com alguns amigos, sendo que três deles já tinham corrido e ido ao pódio. O tema era naturalmente a corrida e as “cenas” por que tinha passado. Para melhor transmitir as coisas acrescentava os sons das reduções, estilo, “Thing, thing thing”. A namorada de um deles, já pelos cabelos, não se conteve e disse: “Pronto, vai ser isto a noite toda...”. E foi.

Fotos: Francisco Fonseca (Photo Course)

4 comentários:

  1. Olá Tinho, foi mesmo bom recordar estes tempos e estes bonecos.

    Toma lá o meu cantinho na blogosfera, mas vai com cuidado para não te molhares...

    www.deepbluepictures.blogspot.com

    Ab. Francisco

    ResponderEliminar
  2. Grande história Tinho. Também estive nesta prova, não a viver a coisa tão por dentro como tu, mas a "reportar", então já para a MOTOCICLISMO, mais o camarada Penedo a dar no gatilho das velhas Nikon.

    Para os leigos, acrescentarei que esta corrida só se realizou uma vez, num dia 1 de Maio, pois o dia do trabalhador era o único (tirando Natal e Ano Novo)que o Intermarché - ou lá qual era o supermercado - estava fechado, permitindo assim que se utilizassem os arruamentos em seu redor.

    VN de Gaia: só uma edição mas, sem dúvida, uma clássica... bem, quase...

    ResponderEliminar
  3. Lembro-me até que estavas a assistir no cimo da recta, antes das duas curvas que antecediam a descida até a meta. Foste até testemunha da minha ida em frente, quando tentei passar a Cagiva Mito verde...

    ResponderEliminar